Entrei em uma Urban Outfitters, a loja com a curadoria de produtos mais legal do mundo, e lá encontrei uma mesa lotada daqueles livros que a gente costuma ver nos perfis gringos: edições belíssimas, capa dura, textura aveludada, ilustrações e cores lindas. No meio daquela pilha, lá estava ele: o tema desse texto. Então, boba que sou, logo pensei que encontrá-lo ali, na minha loja favorita do outro lado do oceano, era um sinal para gastar 12 euros e espaço na mala.
Se você leu e gostou de “Conversa entre Amigos” ou “Belo mundo, onde você está”, ambos da irlandesa (e dona de alguns dos meus títulos favoritos) Sally Rooney, talvez vá curtir Cleo & Frank também! Eu tô no time das pessoas que amam histórias de mulheres em crise nos seus vinte e poucos anos, então qualquer premissa com esse tema já me deixa animada.
Antes de tudo, não acho que esse seja um livro inovador e revolucionários como “Pessoas Normais” foi para mim e para uma geração de mulheres, por seus diálogos sinceros e críticas sociais muito bem elaboradas, mas ainda assim a leitura me envolveu bastante. Senti raiva, encanto, tristeza e revolta enquanto passava por cada página, e apesar de já esperar um desfecho diferente do clichê “felizes para sempre” desde o início da leitura, derramei uma lágrima ou duas no fim.
Em resumo, os protagonistas se conhecem saindo de uma festa, na noite de ano novo em Nova Iorque, e começam uma relação meio apressada e intensa a partir daí. A Cleo é uma garota inglesa, com 24 anos e poucos amigos, tentando construir sua carreira de artista na cidade, mas seu visto americano está prestes a vencer e, para piorar, ela tá quebrada de dinheiro. O Frank é um cara mais velho, de quarenta e poucos anos, bonito e bem sucedido, mas cheio de daddy issues (e outros problemas). O relacionamento conturbado dos dois, apesar de ser ficção, deixa claro o motivo de homens mais velhos se atraírem por garotas tão jovens: autoafirmação (vinda de uma insegurança em aceitar a idade e as mudanças que chegam com ela), o sentimento de dominância e o reforço de sua virilidade perante ao mundo. Pois é, uma merda.
Frank, o protagonista de meia idade (tô sendo ácida aqui, mas ele merece) encontrava nela a juventude que recusava a aceitar que acabou em si, e por outro lado, eu consigo compreender a Cleo ter iniciado essa relação precipitada, pois via nele a figura masculina que lhe faltou na infância, o pai provedor e protetor que ela nunca teve. Ou seja? Os dois precisavam urgentemente de terapia. Além do “age gap”, outros assuntos problemáticos são tratados ali: depressão, ansiedade, uso de drogas, alcoolismo, suicídio… devo avisar que tem gatilhos? Tem gatilhos, gente. Essa não é uma história para jovens de 17 anos, os temas são bem adultos mesmo.
Alguns pontos que me incomodaram (pode conter spoiler): o plot do Quentin, melhor amigo da Cleo, ser tão ruim. Logo ele, uma das únicas pessoas que davam algum suporte à ela. Sei que foi bom, por um lado, ela ter se livrado dessa amizade tóxica que já estava desgastada, mas pareceu apressada e muito rasa a maneira que a autora encerrou isso.
Achei bacana a Cleo ter se arriscado mais uma vez e, com muita coragem, reiniciado sua vida em outro país, na busca de seu propósito. Porém, me entristece saber que ela continuou sem apoio ou suporte emocional de família, namorado ou amigos, parece a receita perfeita para um novo relacionamento tóxico.
E vamos falar de Eleanor? Aqueles e-mails me deixavam entediada e desinteressada, sinceramente, eu não dei a mínima pra essa personagem. Foi muito conveniente pro Frank alcançar seu happy ending com a mulher que estava ali, mais uma vez submissa e carente, pronta para salvá-lo de si em troca de amor. Chato, previsível e injusto (ele deveria pagar pelo serviço de terapia em dinheiro, não em união estável).
Por fim, é um livro que traz muitos incômodos, discussões sensíveis e diálogos pesados. Paguei em euro pra ter essa edição belíssima em mãos (de trouxa, pois quando voltei de viagem vi que ele tinha finalmente sido lançado no Brasil). Contudo, apesar das críticas, de alguns personagens detestáveis e outros mal desenvolvidos, eu ainda assim adorei a leitura e fico ansiosa pelos próximos títulos da autora.
Ps. talvez seja interessante eu contar que sou de libra, isso explica possíveis pontos contraditórios nos meus textos.
Lívia Machado | @liviamm
Eu amei! Que saudade eu estava de *LER* resenhas literárias <3